Sobre o Artista
Quando permitiu que a mais tenra infância emergisse em suas lembranças, percebeu o quanto aquela fase foi pontual na construção do olhar artístico de hoje.
Nascido na região da Zona da Mata em Pernambuco, onde o verão é marcado por um sol escaldante, a ponto de diluir as imagens no horizonte. Foi nesse cenário que, ainda menino, se viu desenhando a síntese das imagens deixadas pelo sol. Ora sentado numa pedra, ora numa calçada, tentava captar com extremo preciosismo, fazendo uso de uma esferográfica, as pinceladas tênues desse astro maior.
Com estranheza, tentava encontrar em fotos de revista ou fotografias de família aquela luz que tanto lhe era familiar em suas folhas de desenho. Não que fossem feias ou erradas, mas havia uma necessidade inconsciente de envolver tais imagens em seu próprio mundo.
A consciência dessa afetação positiva do sol fundiu-se com a prática de
meditação oriental conhecida como Chi Kung, onde alguns exercícios têm como
características movimentos que captam a energia da luz solar, que é trabalhada
no corpo (para seu alinhamento) e, logo em seguida, devolvida para o solo, para
a terra. Atrelado a isso, faz uso de sobreposições de cores de tons de terra, tentando
sempre equalizar num espaço pictórico a dualidade da construção da matéria
exercida entre a luz e a sombra.
Essa dualidade encontra-se também perceptível na mudança da rigidez e
perfeccionismo, encontrados nos traços com esferográfica, para as pinceladas
imprecisas, irregulares e rápidas obtidas por pincéis de cerdas naturais.
São observados quase sempre em seus trabalhos espaços vazios que deveriam estar preenchidos com “matéria”. No entanto, o artista revela que brinca de maneira proposital para que o espectador complete a obra com seu olhar e, assim,
torne-se partícipe. E que a partir daí tenha a revelação da impressão causada
pela luz.